Saibro, Cultura e Precisão: O que Roland Garros nos Ensina sobre Arquitetura e Experiência
- Luan Nogueira
- 8 de jun.
- 3 min de leitura

Enquanto a poeira da final de Roland Garros se assenta sobre Paris neste domingo, o mundo assiste aos saques, às passadas e aos ralis intensos com atenção quase religiosa. Mas se você olhar com um pouco mais de distanciamento — se ampliar a lente — perceberá que o verdadeiro espetáculo vai além do esporte.
Roland Garros não é apenas um torneio. É um ambiente. Um espaço ritualizado que traduz, com elegância, aquilo que muitos arquitetos e designers passam a carreira tentando capturar: a identidade emocional de um lugar.
E talvez por isso ele seja tão relevante para além do tênis. Ele nos mostra, com saibro e silêncio, que o design de maior impacto é aquele que conseguimos sentir.
O Poder do Lugar
Roland Garros não é o maior nem o mais futurista dos quatro Grand Slams. Não tem a tradição inglesa de Wimbledon nem o brilho exagerado do US Open. Mas oferece algo mais duradouro: um senso inconfundível de lugar.
As quadras de saibro terracota — sua assinatura visual — são preservadas com cuidado desde a inauguração do complexo em 1928. A paleta que combina o laranja queimado da argila com o verde suave das arquibancadas e o cinza das passagens arborizadas não apenas cria um cenário: ela provoca uma emoção.
Como acontece com um bom projeto de arquitetura, é difícil explicar, mas fácil de perceber. O espaço nos afeta antes mesmo de sermos capazes de entender por quê.
Evolução com Respeito
Nas últimas décadas, Roland Garros passou por uma transformação silenciosa. O complexo foi expandido, o público cresceu, e a tecnologia se modernizou. O ponto alto talvez tenha sido a reforma da quadra Philippe-Chatrier em 2019, agora com cobertura retrátil e linhas mais escultóricas.
Mas o que torna essa intervenção exemplar não é sua escala — e sim sua sensibilidade.
Inspirado no movimento dos jogadores sobre o saibro, o novo desenho evita excessos e respeita a identidade original do torneio. É o que o arquiteto Marc Mimram chamou de “evolução respeitosa”. Nada impõe. Tudo escuta.
É essa mesma escuta atenta que diferencia um bom projeto arquitetônico de um projeto apenas novo.
Estilo nas Entrelinhas
Roland Garros é também um estudo sobre design silencioso. Lá, tudo é intencional — mas nada grita.
As tipografias dos cartazes oficiais, criados a cada ano por artistas contemporâneos, os uniformes (em parceria com Lacoste e, mais recentemente, com a Dior para as cerimônias de premiação), a ausência de publicidade visualmente agressiva — tudo isso mostra que o torneio não aceita poluição visual.
Essa curadoria sutil é profundamente arquitetônica. Assim como em um espaço bem projetado, ali cada detalhe é pensado para somar, nunca para competir. Como diria Chanel, “antes de sair de casa, tire uma peça”. Roland Garros segue o mesmo princípio.
Atmosfera em Vez de Espetáculo
No mundo do entretenimento, que parece cada vez mais obcecado com o grandioso, Roland Garros ensina o valor da intimidade cuidadosamente construída.
Basta visitar a quadra Simonne-Mathieu, envolta pelas estufas do Jardim de Estufas de Auteuil, para sentir isso. É quase como um salão Art Nouveau em plena competição esportiva. Arquitetura, natureza e performance se fundem em um gesto suave, quase poético.
Ali, não há excessos. Só proximidade, silêncio, e uma experiência sensorial cuidadosamente orquestrada.
O Projeto Emocional
No fim das contas, o que torna Roland Garros memorável não são os metros quadrados, nem as tecnologias. É o fato de que ele nos emociona.
Tal como um edifício que nos marca sem sabermos explicar exatamente por quê, Roland Garros mexe com algo mais profundo. É elegante, ritualístico, resistente e sensível. Ele não precisa gritar. Ele ressoa.
Para quem trabalha com arquitetura, interiores, cenografia ou experiências, a lição é clara: o verdadeiro valor está nos rituais que criamos, nos materiais que escolhemos, e na atmosfera que provocamos.
Do Saibro ao Estúdio
No Xarp Studio, somos movidos por ambientes como Roland Garros — lugares que entendem que estética, narrativa e identidade são parte do mesmo gesto criativo. Ao criar imagens ou animações arquitetônicas, buscamos traduzir exatamente isso: clima emocional antes de tudo.
Porque, assim como o tênis, como Paris, e como a boa arquitetura, o melhor design não é aquele que impressiona rapidamente. É aquele que permanece.
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