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O que os arquitetos estão lendo (mas não comentam por aí)

  • Foto do escritor: Luan Nogueira
    Luan Nogueira
  • 29 de mai.
  • 3 min de leitura

Projeto & 3D por Xarp Studio
Projeto & 3D por Xarp Studio

Tendências silenciosas, obsessões privadas e a nova era da influência no design contemporâneo.


Toda indústria tem suas obsessões — mas nem todas aparecem no feed do Instagram ou nas conversas em equipe.


Na arquitetura, isso é especialmente verdadeiro. A influência real — aquela que de fato molda projetos, materiais e atmosferas — muitas vezes nasce em silêncio. Ela não vem dos relatórios de tendências da indústria ou dos códigos de edificação, mas de livros folheados à noite, revistas lidas no metrô, e páginas marcadas de forma quase íntima.


O novo epicentro da influência


A revista Kinfolk talvez nunca apareça em um briefing comercial, mas seus tons suaves e a narrativa visual minimalista estão cada vez mais presentes em interiores residenciais e corporativos. Apartamento Magazine, por sua vez, ganhou status de bíblia cult entre arquitetos que buscam narrativas espaciais mais humanas, imperfeitas e reais. Já The Touch, publicado pela Norm Architects em colaboração com Kinfolk, é hoje referência essencial para quem deseja entender a importância do sensorial no design — do tato à luz, da temperatura ao silêncio.


Essas publicações não estão apenas sendo lidas: elas estão sendo estudadas, copiadas em moodboards e usadas como linguagem visual não oficial em reuniões decisivas.

Segundo uma pesquisa recente da Dezeen, 61% dos jovens arquitetos dizem buscar referências visuais principalmente em revistas e plataformas editoriais independentes, não em catálogos de fornecedores ou materiais institucionais.

E isso é parte de uma mudança mais ampla.


Da ficha técnica à intuição


Em uma reunião recente com um cliente em Mayfair, apresentamos uma imagem atmosférica criada com base em uma paleta retirada de uma matéria editorial — não de uma ficha técnica. A reação foi instantânea: "Isso parece certo." Ninguém soube explicar o porquê. E esse é exatamente o ponto.


A intuição estética tem ganhado valor como linguagem de convencimento. Um estudo do Harvard Graduate School of Design mostrou que decisões de projeto baseadas em emoção e narrativa sensorial tendem a gerar maior engajamento do usuário final — e, curiosamente, maior retorno financeiro a longo prazo.


E embora muitas dessas referências não sejam declaradas publicamente, elas moldam profundamente o comportamento do mercado. Incorporadores podem nunca citar Apartamento em um relatório, mas reagem imediatamente a uma render que evoca seu universo visual. Um investidor pode não conhecer The Touch, mas certamente sentirá algo ao ver um ambiente renderizado com sua paleta cromática sutil e textura terrosa.


Alfabetização estética: a linguagem que todos entendem, mas poucos estudam


Em um cenário saturado de imagens e propostas, saber comunicar-se através da estética é um diferencial competitivo. E isso vai além da beleza: trata-se de comunicar emoções, intenções e valores de forma não verbal.

A RIBA Client Benchmarking Survey revelou que 72% dos clientes afirmam considerar a clareza visual e o apelo estético dos materiais apresentados como fator determinante na hora de contratar um escritório de arquitetura ou design. No entanto, apenas 1 em cada 5 escritórios investe regularmente em curadoria visual estratégica para seus projetos.


Essa discrepância mostra um potencial enorme: enquanto muitos seguem dependendo de plantas técnicas e descrições objetivas, um número crescente de estúdios começa a se diferenciar por criar experiências visuais que tocam antes de explicar.


Design que ressoa, não apenas funciona


Projetar, hoje, é tão sobre sentimento quanto sobre função. Um espaço bem resolvido é esperado. Mas um espaço que emociona, que desperta memórias e desejos silenciosos, é raro. E é isso que torna essas referências silenciosas tão poderosas: elas alimentam a parte invisível do processo criativo.


A leitura que fazemos em silêncio — fora do expediente, longe do briefing — é, muitas vezes, o que realmente nos move a projetar diferente. E isso, mesmo sem ser dito, aparece no resultado final.




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